O veganismo e o mercado: um convite para pensar diferente

Estamos mais conscientes do que nunca de que o futuro do planeta Terra depende das nossas atitudes de hoje. De famosos documentários na Netflix a pequenas mudanças diárias de estilo de vida, muitos temas têm sido alvo de discussões sobre o que é preciso para proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas. O consumo de alimentos é um deles.

Da fazenda à mesa, a cadeia de abastecimento é longa, complexa e afeta todo o seu entorno. A pecuária intensiva, por exemplo, é uma das principais fontes de poluição que afetam o clima do nosso planeta. Apenas 0,01 m2 de terra é suficiente para produzir, por exemplo, um grama de proteína de ervilha ou de feijão, mas, para se obter a mesma quantidade de proteína de ovelha ou de gado, é necessário 1 m2 de terra. Por isso, abrir mão de uma dieta carnívora e láctea para se tornar vegetariano ou vegano é, comprovadamente, a medida mais eficiente que um indivíduo pode tomar para reduzir seu próprio impacto sobre o meio ambiente.

O veganismo como tendência

O vegetarianismo e o veganismo (além do menos conhecido reducetarianismo) estão em ascensão no mundo, especialmente nos países mais ricos — o número de consumidores norte-americanos que se identifica como veganos cresceu de 1% para 6% entre 2014 e 2017, um aumento de 600%, segundo o GlobalData, e o número de veganos na Grã-Bretanha quadruplicou entre 2014 e 2018. O relatório Healthy Food Delivery, da Just Eat’s, revelou que, nos últimos seis meses, a demanda por entregas de refeições saudáveis cresceu 150% na Itália.

A tendência de busca por estilos de vida sustentáveis também é muito forte no Brasil, especialmente entre pessoas mais jovens e escolarizadas dos grandes centros urbanos. Em 2018, 14% dos brasileiros já se declaravam vegetarianos (dados do Ibope), número ainda maior do que nos EUA e no Reino Unido.

Com a demanda crescendo rapidamente, as marcas já estão testando produtos e soluções para consumidores veganos, vegetarianos e reducetarianos. O Reino Unido lançou mais produtos veganos do que qualquer outra nação em 2018. A Veggie Pret, marca britânica de fast-food do Pret a Manger, está se expandindo pela cidade de Londres e incorporando 94 lojas da rede EAT. Já a Wicked Kitchen, linha de refeições veganas do varejista Tesco, venceu o prêmio PETA Food Award 2018, vendendo mais de 4 milhões de almoços no mês seguinte ao seu lançamento.

Apesar de a Europa liderar esse movimento, os Estados Unidos não ficam muito atrás. Grandes marcas, como Chipotle e Taco Bell, estão promovendo suas opções de lanches veganos. Algumas marcas alternativas de lanches de supermercado, como a CauliPower, também vêm observando um crescimento fenomenal na comercialização de seus produtos.

Veganos, vegetarianos e reducetarianos têm influenciado mudanças em outros setores, como o da moda. Aqui no BrandIdeas, já falamos sobre como essa indústria está se voltando a uma abordagem mais sustentável. A startup italiana Orange Fiber, por exemplo, está se antecipando a esse movimento, produzindo tecidos à base de fibras cítricas de laranjas descartadas.

De acordo com o relatório Pulse of the Fashion Industry, de 2019, publicado pela Sustainable Apparel Coalition, 75% dos consumidores consideram a sustentabilidade extremamente importante. Além disso, metade deles afirmou que mudaria de marca se um concorrente tivesse maior foco ambiental e social — e as marcas do mercado da moda incorporaram isso rapidamente. (Acesse também nosso artigo sobre a tendência de as marcas tomarem posicionamentos sociais.)

Mas voltando à questão central: será que uma dieta humana exclusivamente vegetal é capaz de salvar o planeta? Certamente não — ela pode, inclusive, ter um efeito contrário sobre o meio ambiente. Estudos que mostram o impacto ambiental do consumo exclusivo de certos tipos de alimentos vegetais trazem resultados também alarmantes.

Então, o que podemos fazer como consumidores?

O que fica claro é que precisamos ser consumidores conscientes. Estamos diante de graves problemas que devem ser enfrentados por meio de uma mudança de hábitos. Precisamos reconhecer a diferença entre o que é saudável para nós, como indivíduos, e o que é bom para o meio ambiente, pois nem sempre ambos estão em sintonia. Ou seja, o segredo está no equilíbrio. A queridinha goji berry proporciona inúmeros benefícios à saúde, mas será que elas compensam o custo ambiental de transportá-la da China em embalagens descartáveis de plástico?

O papel das marcas

As marcas também desempenham um papel importante diante desse cenário. Suas decisões estratégicas impactam populações e são capazes de oferecer aos consumidores o suporte necessário para mudar seus hábitos.

Segundo Mateus Potumati, líder da FutureBrand São Paulo, “Mesmo as marcas mais conservadoras e reticentes a mudanças já não conseguem mais fugir do tema. Cada vez mais elas têm implantado políticas voltadas à alimentação saudável e à economia circular para não perder share de mercado, especialmente a geração Z, que tem praticado novos hábitos de consumo

No último mês de novembro, o varejista francês Casino instalou uma estufa de ervas aromáticas em um de seus supermercados. Em vez de comprar ervas já embaladas, o cliente escolhe a quantidade que quer levar e um atendente recolhe seu buquê de ervas frescas, reduzindo o uso desnecessário de embalagens e dando ao consumidor o controle sobre quanto deseja levar.

Uma de suas concorrentes, a Intermarché, está testando a Moche, uma linha de frutas e legumes esteticamente feios, e que, portanto, foram poupados de ir direto para o lixo. Ao fazer isso, ambas as marcas reforçam seu posicionamento, ao mesmo tempo em que conscientizam as pessoas sobre o desperdício de alimentos.

Aqui no Brasil, a FutureBrand São Paulo tem liderado projetos na área de sustentabilidade junto a clientes como Nescau e Nespresso, além de colaborar com parceiros como a Climate Ventures e de promover políticas de transformações internas. Mateus acrescenta: “Todo esse movimento, apesar de importante, ainda é pequeno perto do que será necessário para reverter o cenário sombrio das próximas décadas — o pior inimigo, sobretudo, é a resistência de forças políticas e econômicas poderosas. São iniciativas como essas, porém, que mostram que é possível avançar.

Do lado das marcas, quaisquer ações de sustentabilidade, se bem amarrada a seus posicionamentos, podem produzir bons resultados tanto para as empresas quanto para a Mãe Natureza. O futuro é incerto, mas, se estivermos realmente comprometidos em melhorá-lo para as próximas gerações, precisamos fazer a nossa parte agora e gerar uma mudança significativa.

 

Artigo adaptado de Futurebrand.com – Will veganism save the world?, de Lorenzo Corengia e Alejandra María Hoyos.

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