Vivemos em um contexto de abundância de informações, o que faz com que, todos os dias, tenhamos acesso a milhares delas. Neste cenário, é comum nos depararmos com listas enormes de tendências que irão mudar o mundo nos próximos tempos, mas será que todas elas representam uma realidade próxima?

Na busca por uma nova perspectiva de futuro, vários desafios entram em cena. E, se encontrar tendências reais nunca foi uma missão fácil, agora, esse desafio é ainda maior. Isso se deve à presença de três principais fatores:

1. Verdades inquestionáveis

Verdades inquestionáveis são fatos que acreditamos serem inegáveis e até mesmo hábitos que temos que nos deixam presos à obviedade. Muitas vezes, não conseguimos imaginar uma forma diferente de fazer ou perceber algo porque pensamos que ela não existe. Mas, quando nos permitimos fazer suposições diferentes do nosso padrão, muitas vezes conseguimos chegar a resultados não imaginados.

2. Inovações disruptivas constantes

Para qualquer coisa que pensarmos em consumir, existem opções, das mais específicas às mais sem sentido. Hoje, nós temos acesso a absolutamente tudo, o que nos torna extremamente exigentes e com altas expectativas. Isso faz que, muitas vezes, desejemos coisas impossíveis – ou seja, é garantia de frustração.

3. Crise de confiança

O sensacionalismo tem deixado as pessoas céticas. Nunca foi tão difícil transmitir confiança como agora. Em uma tentativa desesperada de se diferenciar e diante de tantas opções disponíveis, o mercado cria ofertas sem nexo e irrelevantes. As pessoas não somente desconfiam, mas também estão se tornando inflexíveis e intolerantes.

Foi diante desse contexto que Rohit Bhargava, um expert em marketing e inovação, fundou a Non-Obvious Company. Com experiência de 15 anos como profissional de planejamento estratégico, Bhargava começou a questionar o que é ser criativo e como trazer insights realmente relevantes para as empresas e para as marcas. Hoje, é autor de seis best sellers, além de lecionar marketing e inovação na Georgetown University.

Em seu processo de análise de tendências, Rohit conta que o primeiro passo é a pesquisa exaustiva. É por meio de pesquisas que se faz uma curadoria do que realmente é relevante para entendermos qual padrão está, de fato, se desenhando e que ninguém conseguiu enxergar. Esse padrão é o que ele chama de tendência não óbvia. Uma observação única e acurada do contexto presente, mas que permanecerá ao longo do tempo.

Então quais são as tendências que mudarão o futuro? Carolina Lyra, líder na FutureBrand São Paulo, esteve em sua palestra no SXSW Conference 2019, na qual Bhargava listou sete delas:

1. Retro trust

Constantemente desconfiados, os consumidores estão procurando interagir com marcas que tenham um legado consolidado, ou com aquelas com as quais eles compartilham uma história pessoal. Assim, buscam viver experiências nostálgicas e até analógicas para resgatar essa confiança.

2. Muddled masculinity

Cada vez mais, as mulheres estão redesenhando o seu lugar na sociedade. Esse movimento traz uma reavaliação dos gêneros e, consequentemente, um questionamento sobre o que é ser homem hoje em dia.

3. Innovation envy

A insegurança traz aos empreendedores, negócios e instituições um novo olhar sobre a concorrência. Os mais desesperados passam a lidar com o tema da “inovação com inveja”, tratando-a como um fim em si mesma, e não como um meio para entregar uma solução verdadeiramente relevante a quem importa – o cliente.

4. Artificial influence

Pessoas criativas, corporações e governos usam criações virtuais para mudar a percepção pública, para vender produtos e ainda para transformar fantasia em realidade.

5. Enterprise empathy

Empatia se torna um driver de inovação e lucro, além de um caminho para a diferenciação de produtos, serviços e experiências.

6. Robot renaisssance

Realidade virtual e outras tecnologias se combinam com iniciativas humanas e, juntas, se concentram em gerar empatia por meio da habilidade de ver o mundo de diferentes perspectivas. Os robôs ganham importância para criar soluções sem os vícios dos humanos.

7. Back storytelling

Marcas tiram seus colaboradores dos bastidores e encorajam discussões que criam e fortalecem a lealdade desses colaboradores com a mesma força que o fazem com os consumidores. Aqui, vale mais ainda encontrar um propósito para poder contar uma grande história.

Aproveitar-se das tendências, por fim, também se mostra um grande desafio. Nesse sentido, a maior parte do esforço precisa ser dedicado a aderir as tendências ao seu negócio, desafio e propósito. Saber de mais tendências não vai fazer com que a pessoa seja mais inovadora, mas saber trabalhá-las, vai. Ou como diria o próprio Rohit, “don’t be a speed reader, be a speed understander” (não seja um leitor veloz, seja um entendedor veloz).