O impacto da diversidade e da inclusão nas marcas

Nunca estivemos em um cenário tão promissor: estamos vivendo mais, temos acesso à informação como nunca antes; a tecnologia e a inovação atuam a nosso favor. No entanto, temos a sensação de que, no campo social, ainda falta um longo caminho a ser percorrido.

O Brasil se desenvolveu, mas permanece muito desigual: apresenta um dos piores índices de concentração de renda do mundo. O país é 54% negro e, no entanto, de acordo com o Ministério do Trabalho, profissionais negros com ensino superior completo recebem 28,8% menos do que brancos em igual condição. A remuneração de uma mulher negra é 59% menor do que a de um homem branco.

E falando em mulheres, nas 500 maiores empresas do Brasil há 38,8% delas em cargos de supervisão; 31,3% em cargos de gerência; 13,6% em quadros executivos e apenas 11% em conselhos administrativos, é o que indica a pesquisa do Instituto Ethos e ONU Mulheres.

O Brasil é campeão em homofobia no trabalho. O pior entre os 11 países analisados pela consultoria OutNow, em 2017, e, segundo os dados, 68% dos empregados LGBTs já ouviram comentários preconceituosos no ambiente profissional. O assunto é ainda mais sensível quando falamos de pessoas com deficiência (PCDs ). Eles ocupam menos de 1% do total de empregos formais do Brasil e, entre esses contratados, 93,48% só estão no mercado de trabalho graças à Reserva Legal de Cargos ou Lei de Cotas para PCD.

Já falamos aqui no BrandIdeas a respeito da importância de as marcas promoverem um discurso coerente no que tange à diversidade e à representatividade. Mas e se pensarmos da porta para dentro?

Empresas diversas lucram mais 

Esse contexto abre grandes oportunidades para a atuação das marcas. O ranking “As melhores empresas para a mulher trabalhar”, elaborado pela consultoria global Great Place to Work (GPTW) indicou que as empresas premiadas dessa lista tiveram um faturamento 12,2% maior e cresceram seis vezes mais que o mercado em geral. Ainda sobre o tema, um estudo da consultoria McKinsey constatou que ter mulheres em cargos de liderança aumenta em 21% as chances de a marca ter desempenho financeiro acima da média.

Isso nos mostra que investir em equidade de gênero e práticas de diversidade deixou de ser um tema de Recursos Humanos e se tornou relevante para alavancar novas oportunidades de negócios.

Qual é a diferença entre diversidade e inclusão? 

Diversidade e inclusão são comumente relacionadas, mas não são sinônimos. A diversidade se mostra na representação demográfica, por exemplo, no percentual de mulheres, LGBTs, negros e PCDs presentes em uma empresa. Já a inclusão garante que a diversidade tenha chances igualitárias de atuação e desenvolvimento. Ver mulheres, negros e LGBTs em cargos de gestão pode ser um reflexo da inclusão, por exemplo. Karen Fontana, sócia da FutureBrand São Paulo e líder da Springpoint, hub de inovação focado em educação e cultura de transformação, reforça: “As marcas têm uma grande oportunidade nesse cenário. Não estamos falando de assistencialismo, existe uma possibilidade de troca, aprendizado e ganho para todos”.

Meritocracia e inclusão não são excludentes 

Nos últimos anos, a inclusão foi alvo de distorções por conta de um mal entendimento do conceito meritocrático. Porém, é importante reconhecer que, no Brasil, as pessoas não têm as mesmas oportunidades educacionais, econômicas e sociais. Elas não saem do mesmo ponto de partida. Muita gente larga na frente, seja por ter estudado em escolas melhores ou por ter tido acesso a livros e a bens culturais. Essa situação contrasta com a definição de meritocracia, que só pode ser aplicada em um contexto em que toda a população de comparação tenha as mesmas condições socioeconômicas.

Sidney Chalhoub, pesquisador brasileiro e professor de história na Universidade Harvard afirma: “Competitiva, a sociedade passou a ser dividida entre os bem-sucedidos e os fracassados. Os vencedores se tornam arrogantes, pois supostamente são os únicos responsáveis pelo próprio êxito, e os perdedores ficam amargurados, uma vez que não podem culpar nada além de si mesmos”. Isso é fruto de uma cegueira proporcionada pelo mal-uso da meritocracia, já que não existe jornada de sucesso isolada e solitária.

Por que as marcas devem incorporar diversidade e inclusão? 

Ter diversidade e inclusão nas marcas possibilita uma maior compreensão das nuances sociais dos clientes, além do maior entendimento a respeito dos seus anseios e demandas. Listamos alguns dos principais motivos que esclarecem porque investir nesses temas é positivo para os negócios.

Inovação

A pluralidade é o combustível da inovação. Agregar colaboradores com backgrounds diferentes resulta em pontos de vista não óbvios, favorecendo o surgimento de novas perspectivas para o grupo de trabalho. Segundo a Harvard Business Review, empresas com diversidade acima da média tiveram 19% mais receita vinda de inovação.

Segurança

O Google buscou, por intermédio do Projeto Aristóteles, compreender quais eram as características dos times de maior sucesso da empresa. Depois de analisar centenas de equipes, os pesquisadores constataram que a “segurança psicológica” era o fator central para o sucesso desses grupos. Em termos práticos, quando as pessoas se sentem confortáveis em ser elas mesmas, quando podem expressar as suas opiniões sem julgamento e conviver em um ambiente respeitoso, elas se tornam mais produtivas.

Retenção e Produtividade

Uma empresa que se preocupa com a construção da sua imagem costuma atrair os melhores talentos. De acordo com a pesquisa da multinacional de Recursos Humanos Randstad, 87% dos profissionais de todo o mundo valorizam o tema da diversidade. Já, no Brasil, esse índice chega a 91%. Funcionários que se sentem respeitados em sua diversidade se tornam engajados e estão menos propensos a deixar a organização. Isso reflete também no aumento da produtividade, já que o processo de inclusão permite que os colaboradores apostem na empresa e em seu crescimento profissional.

Receita

A consultoria McKinsey estudou também as diferenças raciais e culturais para avaliar qual é a relação entre diversidade e desempenho financeiro. A pesquisa constatou que empresas com maior diversidade étnica em suas equipes executivas têm 33% mais propensão à rentabilidade. E empresas com equidade de gênero têm um lucro operacional 56% maior em comparação com empresas majoritariamente masculinas.

Sustentabilidade

A sustentabilidade não aborda somente questões ambientais, ela é parte integrante também de questões socioculturais e econômicas. Uma marca sustentável valoriza e implementa práticas de diversidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) endereça 2 dos 17 Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável ao tema: o objetivo número 5 (igualdade de gênero) e o de número 10 (redução de desigualdades).

Como as marcas podem trabalhar o tema?

Implementar um processo inclusivo leva tempo e demanda planejamento. Afinal, gerir equipes com históricos diferentes requer atenção e empenho das lideranças. Reunimos alguns passos necessários para incorporar a diversidade na sua empresa.

Hackear os vieses inconscientes

No início, é possível encontrar resistência nas equipes. Muitos podem apresentar vieses inconscientes, que são os conjuntos de estereótipos que absorvemos ao longo da vida. Como pensar que “trabalhar com mulheres é difícil”, achar que mães podem ser menos competentes, atribuir competências ou incompetências a traços culturais. É importante que esses fatores sejam identificados e reconhecidos, para, então, serem evitados.

Apoio da liderança

Os gestores são os principais agentes de transformação. São eles que conduzem as equipes e as auxiliam no desenvolvimento das suas competências. É muito importante que estejam preparados e conscientes sobre a importância da diversidade para a empresa. Sem um CEO comprometido, essa implementação se torna mais difícil.

Criar um ambiente de segurança

Prepare o time e também os novos colaboradores. Criar programas de mentoria e desenvolvimento de carreira, oferecer treinamento para que todos respeitem as minorias, incentivar as vantagens culturais dos membros, estabelecer uma cultura de feedback e ser flexível quanto ao tempo são bons exemplos.

Reestruturação

Além de uma orientação quanto ao recrutamento e à seleção para a incorporação de mais negros, mulheres, LGBTs e PCDs, é importante construir sistemas que garantam remunerações equivalentes, promover workshops e revisar a estrutura física para acolher os PCDs. É relevante também ter um olhar sensível na maneira como a marca se comunica e se expressa em seus canais. Refletir nas imagens e publicações o compromisso com a diversidade e a inclusão.

Representatividade importa

Diante desse cenário, as marcas têm um grande papel como agentes de transformação social. Karen Fontana acredita que as equipes têm um grande poder de influência sobre as empresas e sobre os clientes dessas marcas. Aderir a esses processos por mais equidade gera mais engajamento nas equipes, mais sustentabilidade, mais inovação, mais oportunidades de negócio e traz resultados financeiros expressivos. Representatividade e inclusão são importantes para os colaboradores, para os clientes e para toda a sociedade.

 

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