SXSW | A escalada do mercado de proteínas alternativas

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Este artigo traz um resumo completo sobre como — e a que velocidade — o novo estilo de vida, pautado na conscientização sobre ética e meio ambiente, tem persuadido grandes marcas a mudarem seus rumos.

Por que é importante?

A crescente demanda por produtos animal friendly demonstra um futuro promissor para as marcas mais atentas. Leia, aqui, informações e dados importantes levados ao palco do SXSW 2019.

Comer carne e tomar leite de vaca são hábitos ainda difíceis de serem abolidos, embora a ideia não soe mais tão estranha. Afinal, você já deve ter notado a quantidade de produtos e estabelecimentos especializados em alimentos livres de proteína animal.

Isso nos faz enxergar um movimento silencioso que está em curso, em que as gigantes da indústria alimentícia começam a se deslocar em direção a uma cultura ecologicamente correta.

Para falar sobre esse assunto, quatro representantes da indústria de proteínas alternativas se juntaram, abrindo um interessante e oportuno painel no South by Southwest 2019.

Mudar hábitos para mudar o mundo

O vegetarianismo e o veganismo são formas de dieta e estilo de vida motivadas, principalmente, por ambientalismo, ética e saúde. Essa filosofia se apoia em fatos que, sem dúvida, constrangem nossos hábitos todos os dias.

Para não ficar no abstrato, podemos falar de alguns desses fatos. Por exemplo, a produção de carne bovina é uma das grandes responsáveis pelo desmatamento, pelo consumo de água e pela emissão de gás metano, o que agrava o aquecimento global.

Já do ponto de vista ético, os maus tratos nos chocam severamente a cada denúncia. Confinamento, manipulações genéticas e mutilação, infelizmente, ainda são recursos presentes em muitas indústrias.

Apegando-se a esses e a outros fatos, a geração Z (nascidos a partir de 1995), encontrando eco nos anseios e atitudes dos Millenials (nascidos entre 1980 e 1994 — que têm doze vezes mais chances de serem veganos ou vegetarianos do que a geração dos Baby Boomers) — tem sido apontada como a catalisadora desse movimento de conscientização.

As pesquisas indicam um futuro promissor

Até pouco tempo, essa ideia era considerada como uma prática isolada, de uma pessoa ou outra. Hoje, ela já se mostra como uma corrente de pensamento, cada vez mais robusta, sólida e influente. 

Isabel Sobral, sócia-diretora da FutureBrand, que acompanhou o ciclo de palestras do SXSW 2019, destaca que campanhas de conscientização espalhadas pelo mundo inteiro têm atraído o foco e inspirado a criação de outras tantas.

Muitas campanhas antigas, por exemplo, têm recebido apoio e reconhecimento tanto de pessoas influentes como de instituições governamentais. É o que acontece na Bélgica, no Reino Unido e na França.

Aqui, no Brasil mesmo, a campanha Segunda Sem Carne, que existe desde 2009 com a parceria da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), ganhou enorme expressividade, chegando à Secretaria do Meio Ambiente, por meio da qual alcançou as redes públicas de ensino de diversos estados. Hoje, a campanha que consiste na substituição da proteína animal por uma de origem vegetal é considerada a maior do mundo, tendo distribuído, só em 2017, um total de 47 milhões de refeições.

As pesquisas ajudam a explicar o sucesso da iniciativa. O Datafolha mostrou, em 2017, que cerca de 67% dos brasileiros gostariam de reduzir o consumo de carne e que, pelo menos, 73% se sentem mal informados sobre a qualidade do tratamento dos animais na pecuária.

Um mercado em ascensão

Com toda essa mobilização, a corrida para atender à crescente demanda por proteínas alternativas acelerou bastante. Esse cenário engloba startups, universidades, ONGs, incubadoras, fundos de investimento e, obviamente, as gigantes do mercado alimentício, como Unilever, Nestlé, Tyson, Cargill, Kraft, Danone, General Mills, Burguer King, Barilla, entre outras.

Essas iniciativas se dividem entre soluções de proteína vegetal — proveniente de grãos e sementes — e a agricultura celular — que envolve recriar a proteína das células dos animais e cultivar a carne em laboratórios, eliminando a necessidade de criação e abate. A Universidade de Oxford estima que esse movimento reduzirá muito os gases causadores do efeito estufa (96%) e a quantidade de terra (99%), água (96%) e energia (46%) necessária para a produção tradicional. São números pra lá de expressivos.

Com uma perspectiva tão animadora, em termos de resolução dos problemas e também de mercado, as marcas começam a anunciar ações concretas.

A Nestlé já informou que vai lançar uma linha de hambúrgueres de soja nos Estados Unidos e na Europa, ainda em 2019. E ela já tem nome. Chama-se “Incredible Burguer”. Estima-se que a operação vegetariana da marca deva gerar mais de 1 bilhão de dólares em vendas na próxima década, segundo Laurent Freixe, presidente da companhia nas Américas.

O Burguer King vai iniciar uma fase de teste, lançando, em algumas lojas, o novo hambúrguer sem carne. A Beyond Meats (apoiada por Bill Gates) e a The Vegetarian Butcher (recentemente adquirida pela Unilever) também chegam para engordar o novo segmento.

E tem novidade polêmica também. O consumo de insetos, comum na Ásia (atualmente, cerca de 2 bilhões de pessoas se alimentam de insetos) em razão do seu alto valor nutritivo, tem sido considerado no desenvolvimento de diversas startups, o que deve resultar no ganho de mercado em alguns anos. Embora seja encarada como proteína alternativa, a ideia não foi explorada no SXSW 2019, pois enfrenta forte resistência cultural no Ocidente, além de não ser coerente com o propósito animal friendly, já que envolve sofrimento animal no processo.

Para Isabel, é importante dar uma atenção maior a esse novo mercado, porque ele é realmente promissor. Basta olhar a versão mais atualizada do mapeamento feito por Olivia Fox Cabane. A primeira considerava apenas 62 atores nesse ecossistema. A segunda versão do levantamento, no entanto, já sinaliza um aumento expressivo de marcas que estão investindo nesse novo setor.

A essa velocidade em que as coisas estão caminhando, independentemente das opiniões sobre o assunto, o que se anuncia é um futuro primaveril, em que o consumo consciente fará parte das nossas vidas, conquistando nossos gostos e nossas preferências, quase como num processo natural de evolução dos costumes. Bom pra todo mundo!

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