A cerveja é uma das maiores paixões do povo brasileiro. Somos o terceiro maior produtor mundial, ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos. Produzimos cerca de 14 bilhões de litros de cerveja, um mercado que corresponde a 2% do PIB nacional.
Nossa cultura cervejeira cresceu com marcas como Antarctica, Bavaria, Brahma, Skol, Schincariol, Kaiser e a caçula Itaipava, as principais soberanas nas gôndolas do país. A disputa acirrada por fatias do mercado deu o tom das campanhas publicitárias e seus slogans memoráveis: “A número 1”, “A cerveja nota 10”, “A BOA” “A cerveja dos amigos”, “O Baixinho da Kaiser”, “A Verão”, “O brahmeiro”, “Experimenta” e “A cerveja que desce redondo”. Somos um dos mercados mais competitivos e criativos do mundo nesse nicho, tendo a Skol e a Brahma como terceira e quarta marcas mais valiosas do país, segundo pesquisa do portal Kantar Brasil Insights.
O brasileiro bebe diferente
Temos um jeito bem diferente de beber cerveja, diferente dos nossos vizinhos da América Latina, dos norte-americanos e dos europeus, aqui, a apreciamos estupidamente gelada. No Brasil, bebemos na rua, na praça, no churrasco, no jantar, no almoço, no jogo de futebol, no posto de gasolina, e bebemos muito: a cerveja representa 60% de toda a bebida alcoólica consumida no país.
O maior número de embalagens de cerveja também é nosso: temos a clássica lata de 350 ml, a latinha de 269 ml, o latão de 473 ml e o super latão de 550 ml, a garrafa long neck de 355 ml, a de 250 ml, a de 300 ml retornável e a tradicional garrafa de 600 ml, encontrada em todo bom boteco que se preze.
A chegada dos players internacionais
A entrada de players internacionais no nosso mercado deixou a disputa ainda mais competitiva. A Ambev, por exemplo, trouxe algumas novidades para a época, como a Stella Artois e a Budweiser. Em seguida, veio a fabricante holandesa Heineken International, com a própria marca e com a Amstel. Esse movimento popularizou marcas que estavam no imaginário dos brasileiros que visitavam o exterior ou assistiam a filmes estrangeiros. Mesmo tendo, por vezes, o líquido completamente diferente da cervejaria original, elas surgiram como opções “glamorosas” a preços acessíveis.
O nicho das cervejas especiais
Com o refinamento do gosto do consumidor brasileiro, veio o boom das cervejas especiais e suas microcervejarias. Pioneiras como Eisenbahn, Colorado, Baden Baden, Ampolis, entre outras, foram adquiridas por grandes fabricantes, se popularizaram, ganharam capilaridade na distribuição e versões com preços mais acessíveis. Em 2010, as cervejas artesanais representavam 0,7% da produção nacional, hoje, somam 1,2%. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), temos mil cervejarias artesanais no país. O Rio Grande do Sul é o principal fabricante com 179 cervejarias, já a região Norte tem 26 produtoras.
As cervejas artesanais encontraram o seu nicho: não disputam com as cervejas populares e vêm ganhando espaço em novas ocasiões de consumo. As grandes cervejarias entendem a importância de terem marcas que competem por preço/volume e outras que competem por excelência/qualidade e atendam um consumidor mais exigente e criterioso. Os três maiores fabricantes de cerveja do país, Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis, têm extensos portfólios de cervejas com diferentes categorias e diversas faixas de preço.
De acordo com uma pesquisa da agência de inteligência de mercado Mintel, mais da metade (53%) dos jovens entre 18 e 24 anos estão abertos a experimentar novos tipos de cerveja, especialmente as com “novo sabor” ou “sabor inovador”. Ou seja, incentivar a curiosidade do consumidor pode ser uma boa oportunidade de negócios.
A expansão das microcervejarias está contribuindo também para o surgimento de uma identidade nacional de cervejas. A competição entre as marcas resulta em bebidas premiadas, com qualidade igual ou superior à das principais escolas de cervejas, como Wäls, Bodebrown, Black Princess, Amazon, Coruja e Tupiniquim.
Puro malte
Em um mercado mais maduro, o brasileiro passou a ter maior interesse pelos ingredientes e pela composição da sua bebida preferida. Por isso, em 2016, consumidores começaram a questionar a adição de outros cereais, como arroz e milho, na composição de tradicionais cervejas do mercado.
Foi se aproveitando desse contexto que parte do mercado começou a reforçar um atributo do seu produto e difundiu o selo “puro malte”, cobiçado também por outros players do mercado, que passaram a investir em campanhas com esse mote.
Para ser classificada como cerveja puro malte, é preciso que a bebida seja produzida somente com malte de trigo e de cevada, sem adjunto em sua linha de produção. Amstel, Heineken, Devassa, Serra Malte, Proibida, Bohemia, Brahma Extra, Estrella Galícia, Petra, entre outras, entram nessa subcategoria.
Mas, na contramão dessa necessidade, a cervejaria Colorado lançou a campanha “Água, malte, lúpulo e muito mais”, deixando claro que a criatividade é o grande trunfo das cervejas nacionais. Para além de um posicionamento forte, a ação da marca estampou nas ruas o trabalho que muitas outras microcervejarias já estavam fazendo: líquidos diferentes e que resultam em uma escola de cerveja nacional.
Mais do que isso, o movimento também simbolizou uma nova orientação ao consumidor: uma cerveja puro-malte não é necessariamente melhor, é só uma abordagem, um tipo de receita que pode, ou não, agradar um paladar específico.
Os posicionamentos também evoluíram
Em paralelo ao amadurecimento do mercado, as marcas passaram a ter um outro olhar sobre a maneira pela qual se posicionam. Ciro Karam Geara, líder na FutureBrand, afirma: “No Brasil, as marcas de cerveja passaram a investir na comunicação com discursos autênticos, fugindo de atributos funcionais e de clichês, como o uso da mulher-objeto ou do auto-elogio.”
Mas hoje em dia já não basta ter um discurso autêntico, se não se tem a sintonia com o consumidor. Fazê-lo “comprar a ideia da marca” vai muito além de gerar awareness através da comunicação. Ciro complementa: “Em um mundo on demand, ser relevante na vida dos consumidores é ter um universo a sua disposição: é gerar conteúdo, promover encontros e ideias, incentivar plataformas de discussão. Tudo isso através de uma linguagem própria, de um lifestyle. Só assim a marca terá relevância na vida das pessoas e não será descartada após o último gole”.
Tendências do mercado cervejeiro
Diante de todo esse contexto de mudança que o mercado cervejeiro brasileiro passou (e está passando), é possível prever algumas tendências para o setor, que podem representar oportunidades para as marcas mais atentas:
Estilos adaptados ao paladar dos brasileiros
As cervejas “sessions”, derivadas de estilos tradicionalmente mais fortes como pale ale ou India pale ale (IPA), são variações mais leves e refrescantes. A adaptação é uma oportunidade de se alinhar ao gosto médio do brasileiro, que demanda cervejas mais refrescantes.
Cerveja como ingrediente
Receitas, drinks e coquetéis com cerveja já são populares em diversos países cervejeiros e podem ser uma nova opção de consumo para o nosso país.
Extensões de portfólio
Maior potencial de marca para as cervejarias, a extensão de seu portfólio traz novos estilos abrigados em uma única organização, movimento que surgiu com Eisenbahn, Devassa, ganhou força com a Itaipava (Pilsen, Premium, Go Draft, Malzbier e Zero) e com a Skol – Tradicional, Puro Malte e Hops.
Novos horizontes
A exportação e atuação relevantes em mercados vizinhos na América Latina, Estados Unidos e Europa também são passos significativos. A Brahma, por exemplo, já se estreou esse movimento, viajando para a Argentina e Paraguai.
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